CARTA MENSAL - ABRIL/2025
Em abril de 2025, o Ibovespa avançou 3,69%, encerrando aos 135.066 pontos e acumulando ganho de 12,29% no ano. O dólar recuou 0,50%, cotado a R$ 5,6766, enquanto os juros futuros apresentaram importante desaceleração, com queda superior a 100 pontos-base nas taxas longas. Durante o mês, o cenário global manteve a volatilidade elevada na primeira quinzena, mas a resiliência do mercado brasileiro destacou o país entre os vencedores relativos, mesmo em meio à intensificação da guerra comercial liderada pelos EUA.
Cenário internacional
Abril teve início sob forte impacto de uma nova rodada na guerra comercial. O anúncio de um novo pacote tarifário por Donald Trump, batizado de “Dia da Libertação”, trouxe dúvidas sobre a trajetória inflacionária nos Estados Unidos e desencadeou aversão ao risco: bolsas globais recuaram, a volatilidade disparou e ativos tradicionalmente considerados portos seguros — como as Treasuries americanas e o dólar — perderam força. O ouro, por sua vez, subiu 4,66%, reforçando sua atratividade como hedge nas carteiras de investimentos.
Entretanto, a partir da segunda quinzena do mês, o ambiente internacional apresentou sinais de estabilização. O governo americano adotou postura menos agressiva, recuando parcialmente em algumas das medidas tarifárias e dando início a discussões que trouxeram maior previsibilidade aos mercados. Com isso, as bolsas globais se recuperaram das perdas iniciais e o índice de volatilidade (VIX), que havia disparado no início de abril, recuou gradualmente, refletindo menor tensão e a gradual volta do apetite por risco.
Nesse movimento de reacomodação, o Brasil e outros emergentes mantiveram desempenho positivo. Graças ao baixo peso do comércio internacional no PIB, à moderada exposição às tarifas e ao protagonismo da China como principal parceiro comercial, o país ficou menos vulnerável à escalada tarifária, destacando-se como vencedor relativo na turbulência. Essa resiliência também se refletiu no fortalecimento do real.
Mercado Brasileiro
No cenário doméstico, o principal destaque foi a expressiva redução da inclinação da curva de juros. As taxas longas recuaram mais de 100 pontos-base ao longo de abril, refletindo o movimento internacional e a percepção de que o ciclo de alta da Selic se aproxima do fim. Atualmente, contratos de DI para janeiro de 2026 já negociam a 14,68%, ante projeções de 17% no final de 2024, indicando expectativa de encerramento do ciclo de aperto entre maio e junho.
Esse ambiente mais favorável à renda variável impulsionou especialmente setores sensíveis à trajetória dos juros, como consumo, construção civil e varejo. O ETF de small caps (SMAL11) destacou-se com alta de 8,65% no mês, indicando maior apetite por risco e valorização dos ativos mais descontados. Os fundos imobiliários (IFIX) também acompanharam essa tendência positiva, fechando com alta de 3,01%.
Por outro lado, segmentos mais expostos ao ciclo global, como commodities, tiveram desempenho mais contido, impactados pela volatilidade internacional e pela queda dos preços do petróleo e do minério.
Apesar da performance expressiva dos ativos, o debate sobre inflação doméstica e ajuste fiscal permanece no radar, exigindo acompanhamento atento dos próximos passos da política econômica. O desempenho futuro da Bolsa estará condicionado à queda nas taxas reais de longo prazo, o que depende de medidas estruturais para conter a expansão da dívida pública e de avanços na percepção de risco fiscal e político do país.
Perspectivas
Com o alívio na volatilidade global e a perspectiva de encerramento próximo do ciclo de aperto monetário, o mercado brasileiro entra em maio equilibrando expectativa e cautela. O cenário mais favorável para os juros cria oportunidades especialmente em ativos de renda fixa prefixados e indexados à inflação, classes historicamente beneficiadas em momentos de transição monetária.
Na renda variável, a valorização dos ativos locais, sobretudo das empresas voltadas ao mercado interno, reforça o olhar atento do investidor ao potencial de recuperação dos setores mais sensíveis ao crédito e ao consumo. No entanto, a sustentabilidade desse movimento depende da continuidade da melhora das condições fiscais e da manutenção da disciplina nas contas públicas — elementos-chave para manter as expectativas de inflação sob controle.
Cabe ressaltar que, neste mês, teremos reuniões para definição da taxa de juros no Brasil, EUA, Europa e Reino Unido.
Fluxo Estrangeiro
O comportamento do investidor estrangeiro na Bolsa brasileira reflete bem o clima de incerteza e, ao mesmo tempo, de recuperação observado em abril. Nos primeiros dias do mês — período de maior estresse internacional —, o fluxo estrangeiro foi fortemente negativo, acompanhando a aversão global ao risco. A saída de recursos chegou a ultrapassar R$ 10 bilhões até 16 de abril.
No entanto, à medida que o ambiente internacional se estabilizou e o Brasil passou a ser visto como uma alternativa atrativa em meio à incerteza global, parte relevante desse capital retornou, de modo que o mês foi encerrado com retirada líquida de apenas R$ 133,632 milhões.
A reversão do fluxo estrangeiro reforça a confiança do investidor global no mercado brasileiro, especialmente nos períodos em que o diferencial de fundamentos e o alívio dos riscos externos se mostram evidentes. Mesmo com saldo final marginalmente negativo, a trajetória de melhora serve como termômetro do apetite por Brasil — e sustenta uma visão construtiva para os próximos meses, caso o contexto externo e interno permaneça favorável.