carta mensal - março/2025

Em março de 2025, o Ibovespa subiu 6,08% para 130.259,54, enquanto o dólar caiu 3,57% para R$ 5,7053. O cenário global de incertezas nos EUA, com novas tarifas, e as iniciativas de estímulo na Europa e China forçaram uma rotação global de capital para mercados emergentes. No Brasil, a elevação da Selic para 14,25% e a perspectiva de estabilização das taxas de juros locais criaram um ambiente favorável para ativos de risco, apesar dos desafios fiscais e políticos persistirem. A expectativa de reformas estruturais futuras e a potencial atração de um governo pró-mercado em 2026 também alimentaram o otimismo dos investidores.

Nos Estados Unidos, os mercados reagiram às incertezas geradas pela política comercial do governo de Donald Trump, inclusive com o “tarifaço” contra produtos importados de que foi anunciado nesta quarta-feira, 02 de abril de 2025.

Esse ambiente de apreensão influenciou diretamente a decisão do Fomc de manter as taxas de juros inalteradas no intervalo entre 4,25% e 4,50%. O tom cauteloso do comunicado destacou preocupações específicas com o impacto potencial das tarifas no crescimento econômico, mencionando explicitamente o risco de redução nos investimentos empresariais e na demanda do consumidor.

Enquanto isso, temos visto a inflação americana desacelerando, acompanhada de sinais de enfraquecimento na atividade econômica e no mercado de trabalho. No entanto, investidores começam a trazer para a mesa a possibilidade de estagflação – baixo crescimento econômico com alta inflação. Isso dificultaria futuros cortes de juros neste ano, a menos que ocorra uma recessão mais severa, que forçaria o Fed a agir de forma mais agressiva.

Os efeitos das tarifas de Trump transcendem as fronteiras norte-americanas e são sentidos globalmente.

Na Europa, a Alemanha anunciou um novo pacote de investimentos em infraestrutura e defesa, visando reanimar sua economia e gerar um impacto positivo em todo o continente europeu. Na China, medidas fiscais estão sendo implementadas para estimular o consumo e o crescimento econômico, reforçando a atratividade dos mercados emergentes em um contexto de instabilidade nos EUA.

No Brasil, o foco permanece nos desdobramentos políticos e econômicos. O cenário fiscal continua desafiador, com a necessidade de equilibrar as contas públicas e garantir a sustentabilidade da dívida. A política monetária, por sua vez, reage às condições econômicas, buscando controlar a inflação e manter a estabilidade financeira.

O Copom elevou, conforme esperado, a Selic em 100bps, para 14,25%, reafirmando a necessidade de uma postura conservadora frente a pressões inflacionárias persistentes, alimentadas tanto por fatores internos quanto externos. O comunicado sinalizou a possibilidade de ajustes menores nas próximas reuniões.

Essa indicação do Banco Central, em conjunto com o desaquecimento da atividade econômica, favorece uma taxa Selic terminal menor do que a inicialmente prevista. No final de 2024, esperava-se uma taxa próxima a 17%, mas agora é quase consenso que ela deva ficar em torno de 15%.

Essa mudança nas expectativas reflete uma percepção de que o Banco Central será mais cauteloso em seus próximos movimentos, buscando evitar um aperto monetário excessivo que possa prejudicar o crescimento econômico. Quando o Banco Central confirmar o final do ciclo de alta da Selic, o foco dos agentes de mercado se voltará para a expectativa de quando a taxa poderá começar a cair.

Essa perspectiva é extremamente positiva para o mercado de renda variável, impulsionando o apetite por risco e atraindo investidores, especialmente estrangeiros. Em março, esses investidores aportaram R$ 3,118 bilhões na B3, com um acúmulo de R$ 10,642 bilhões no ano.

No cenário político, o enfraquecimento da atividade econômica representa um desafio para o governo, que enfrenta uma queda na sua taxa de aprovação. Duas consequências se destacam neste cenário:

1.       A parte positiva é que investidores esperam que as eleições de 2026 tragam um candidato pró-mercado, com um compromisso claro de implementar reformas estruturais para impulsionar o crescimento econômico de longo prazo. Essas reformas poderiam incluir medidas como a simplificação do sistema tributário, a abertura da economia e a redução da burocracia.

2.       O risco é o governo recorrer a medidas populistas para tentar recuperar popularidade, o que poderia agravar os problemas fiscais e afetar negativamente a confiança dos investidores. Essas medidas poderiam incluir o aumento dos gastos públicos, o controle de preços e outras políticas que poderiam comprometer a estabilidade econômica.

A valorização sustentável do mercado de renda variável depende da redução das taxas reais de longo prazo. Para que isso ocorra, seriam necessárias reformas estruturais ambiciosas para desacelerar o crescimento da dívida pública, algo que parece distante, dado o cenário político e econômico atual.

A ausência de um compromisso claro com a disciplina fiscal e a implementação de reformas estruturais pode limitar o potencial de valorização das ações.

Pelo menos em março a bolsa brasileira seguiu se beneficiando da saída de capital dos Estados Unidos em direção a outras regiões, especialmente as emergentes. Esse movimento pode se intensificar com a implementação das novas tarifas de importação proposta por Trump. É esperar para ver.

No fim, a rotação global de capital para mercados emergentes e a perspectiva de estabilização das taxas de juros locais criam um ambiente favorável para ativos de risco no Brasil, apesar dos desafios internos. A evolução futura dependerá do delicado equilíbrio entre fundamentos econômicos sólidos e decisões políticas prudentes nos próximos meses. A capacidade do governo de implementar reformas e manter a disciplina fiscal será fundamental para determinar o desempenho do mercado brasileiro nos próximos meses.

 

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